Cheguei a admitir para alguns amigos e jornalistas do trabalho : ir ao show de Amy Winehouse, no Rio de Janeiro, não era apenas uma questão de preferência musical ou de compomisso de trabalho. Minha missão era, claro, fazer a cobertura do show, da passagem meteórica da cantora pelo Brasil. Mas seria impossível não considerar que seria uma oportunidade única. Uma oportunidade de quem pressentia que não teríamos mais Amy por muito tempo.
Não era pessimismo. Era conhecimento da realidade em que vivia a estrela da música. Acostumado a acompanhar pela mídia os escândalos, as páginas dos tablóides que destacavam seus recorrentes problemas com drogas e álcool; esperava que, em algum momento, algum desses excessos fosse derradeiro. Cheguei a comentar que o show seria uma referência - e marco pessoal - ligada a "cultura pop" em minha vida. Os mais apaixonados por Amy Winehouse que me perdoem o que parece frieza, mas eu queria fazer a cobertura do show não apenas para ver Amycantar ao vivo. Queria ser uma espécie de "testemunha" do que muito se comentava sobre as apresentações, até mais que sua própria qualidade vocal: o constante hábito de entrar em palco supostamente sobre a inflência de drogas ou, "pelo menos", visivelmente embriagada.
Na presentação do "HSBC Arena", em janeiro deste ano, não foi diferente. Amy Winehouse não só estava "alterada" como também portava uma caneca na mão. Pouca gente sabe, mas pessoas qu estavam perto do palco confirmaram que Amy chegou a perguntar se alguém seria capaz de imaginar o que havia dentro dela. Não demorou muito e, mesmo do alto do camarote da imprensa, foi possível ver quando a cantora virou uma latinha de cerveja na caneca. Minha mórbida "profecia" se cumpriu 6 meses depois: foi um dos últimos shows de Amy Winehouse para contar aos meus filhos, um dia, que presenciei. E vi, de perto, Amy cantando loucamente para uma multidão, realmente inebriada pelo álcool.
Billy Paul - A morte de Amy Winehouse me lembrou de imediato o amigo que fiz, em sua passagem pelo Brasil, Billy Paul. Me veio a memória - num daqueles minutos que ficamos catatônicos olhando para o nada - uma conversa que tivemos no carro, quando saímos do estudio do "Hoje em Dia - Rio" para um restaurante da zona sul carioca. Billy estava alegre, comemorando com imensa simplicidade a incrível audiência que tivemos no programa com sua visita. Billy estava feliz, como eu, como se o programa fosse dele! Mas a tristesa sempre ficava estampada em seu rosto quando falávamos de Michael Jackson. Billy era muito próximo aMichael Jackson e sofreu muito por conta de sua partida. "Michael era uma criança no corpo de um adulto." - disse ele ao lado da esposaBlanch, e da diretora do nosso programa, Vanessa Andrade. "Essas perdas são sempre traumáticas" - disseram eles. Na época foi preciso mais de uma hora em frente ao televisor, esperando a notícia da imprensa, para acreditar no que já havia informado um amigo pessoal de Londres, que ligara horas antes que qualquer "breaking news" entrasse no ar na televisão norte-americana.
Ao saber hoje sobre a morte de Amy Winehouse, foi o rosto de Billy Paula primeira coisa que me veio à mente. Liguei de imediato para ele. Pude perceber em sua voz a tristesa. Billy tinha tido a notícia poucas horas antes. Tristesa não apenas pelo fato do mundo perder mais um talento vocal e inigualável como o dela, mas pelo fato de que, para ele, foi como se o episódio da morte de Michael Jackson fosse um filme triste e depressivo que voltava a ser exibido. "Yeah man..." - disse-me com voz embargada e pausadamente - "é como se voltasse a minha cabeça agora tudo o que vivemos. Não é difícil imaginar o que muitos amigos próximos estão sentindo agora. É o que eu senti quando soube da morte de Michael." - completou. Billy me disse que não poderia dizer exatamente que conhecia Amy Winehouse. Ele esteve com ela em algum evento musical - que pela voz ecoando por conta do sistema de telefonia celular de "qualidade" que temos - não consegui entender bem."Não éramos próximos, apenas estive com ela. Mas muita gente do mundo da músca, aqui nos Estados Unidos, está lamentando e chorando essa perda." - disse ele.
A causa da morte? Billy Paul sabia tanto quanto o que era dito pela impresa. Mas não era difícil se identificar com a cantora que perdemos. Quando mais jovem, Billy também teve sua guerra particular contra o álcool e as drogas. Assunto sobre o qual conversa com naturalidade ímpar. Hoje, do alto de seus 75 anos, toda a experiência de vida é dividida com jovens, em palestras que faz gratuitamente, quando a imensa agenda de show assim o permite.
Billy Paul falava enquanto voltava para casa de uma temporada de apresentações em um cassino de Las Vegas. Seria um rápido descanso e já se prepararia para uma rotina de novos espetáculos. Pelo pouco que conheci Billy Paul, que num ato de extrema generosidade e humildade chegou a dedicar a mim - um "Zé Ninguém" perto dele - uma de suas músicas que mais gosto, no palco, aqui no Rio: "Only Strong Survive".
Posso imaginar, facilmente, que não faltará em suas próximas apresentações uma homenagem especial a Amy Winehouse. É como as roletas de Vegas que não se cansam de girar: no mundo da música, o show também não pode parar...
FONTE:FÁBIO RAMALHO/R7 BLOGS
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