A Rio+20 (Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável), que atraiu no mês de junho mais de 110 mil turistas para a capital fluminense, serviu como um primeiro teste para Copa do Mundo de 2014 e Olimpíada de 2016. O R7 procurou especialistas do setor de turismo para perguntar sobre os erros e acertos durante o evento e encontrou ao menos três pontos frágeis: mobilidade urbana, segurança e falta de domínio de diferentes idiomas.
Serviços, como estabelecimentos comerciais, não preparados para receber estrangeiros e falta de guias turísticos para apresentar os patrimônios da cidade são alguns dos gargalos do turismo carioca a serem enfrentados nos próximos anos.
Para o presidente do Conselho Empresarial de Turismo Pró-Rio da Associação do Comércio do Rio de Janeiro, Sávio Neves, o atendimento aos visitantes ainda está longe do ideal.
— Treinamento e qualificação profissional ainda é um desafio. Desde os Jogos Pan-Americanos de 2007 avançamos no atendimento, mas ainda estamos em um patamar insatisfatório. A Rio+20 foi o primeiro evento que de fato mobilizou toda a cidade. A Olimpíada e a Copa nos forçarão a melhorar.
Transporte público x trânsito
Os dias em que os chefes de Estado se reuniram no Riocentro para aprovar o documento da Rio+20 foram declarados ponto facultativo para servidores públicos e feriado escolar. O presidente do Conselho de Turismo da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), Alexandre Sampaio, avalia a medida, apesar de radical, como acertada. Entretanto, ainda sim, o trânsito apresentou problemas.
— As faixas exclusivas resolveram os problemas das comitivas das delegações, mas o trânsito para os demais veículos ficou complicado. Já o aeroporto é outro problema. O Galeão precisa receber um choque de ordem e isso só será possível com a privatização.
A esperança é que os BRTs (corredores exclusivos de ônibus) e o metrô da Barra facilitem o trânsito para os próximos eventos. Contudo, durante a Rio+20, a população divulgou em redes sociais a superlotação nos vagões do metrô. Seis pessoas passaram mal em um único dia.
A MetrôRio informou que o fluxo de passageiros aumentou 5% nos dias 18 e 19 de junho, mas que o movimento caiu 20% em relação aos dias de semana (650 mil passageiros) durante o feriado nos dias 20, 21 e 22 (período em que a cúpula foi realizada). A concessionária também afirma que não registrou qualquer anormalidade em sua operação por conta da Rio+20.
O presidente da Abrataxi (Associação dos Taxistas do Brasil), Ivan Fernandes, aponta outro problema: uso de carros particulares como táxi sem autorização da prefeitura ou taxímetro.
— A Rio+20 não foi positiva. Os carros particulares que funcionam como táxi estão ganhando cada vez mais espaço. Os hotéis estão indicando esses veículos que não são registrados na prefeitura para realizar a atividade de táxi. Funcionam sem taxímetro e cobram 'no tiro' [preço combinado].
Para Fernandes, esses carros particulares desencorajam o investimento na carreira, já que eles não cumprem a mesma regra tampouco pagam os impostos. Ele reconhece que a categoria precisa se capacitar não só em idiomas, mas também em guias para apresentar a cidade.
— Somos 32 mil taxistas e 17 mil auxiliares. Nem todos têm tempo para frequentar um curso presencial e a própria prefeitura só começou uma turma há pouco tempo.
Receber em outros idiomas
Saber inglês e espanhol não é necessidade só de guias. O comércio não está preparado para turistas estrangeiros. Na Rio+20, mímica foi a alternativa encontrada na praça de alimentação do Riocentro, entre atendentes e delegações estrangeiras. Para Sampaio, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, essa capacitação também é de responsabilidade da administração pública.
— A maioria dos restaurantes tem cardápio bilíngue, mas isso não basta. Os turistas querem aproveitar as lojas também. Falta o governo ajudar no aperfeiçoamento dos empregados.
Para o presidente do Sindicato Estadual de Guias de Turismo do Rio de Janeiro, Marcelo Rezende, a capacitação dos funcionários depende também dos empresários. Para ele, não é possível contar só com a Riotur, órgão da Prefeitura do Rio para o turismo, na hora de qualificar profissionais e até mesmo novas áreas turísticas.
— Quanto à capacitação de mão de obra, seja do taxista ou do atendente do hotel, dependerá na maioria das vezes do empresariado. Entretanto, esta prática não está na cultura do País.
Já o quesito segurança foi um ponto positivo durante a Rio+20, com queda no registro de roubos e homicídios, segundo o ISP (Instituto de Segurança Pública). O presidente do Sindicato Estadual de Guias de Turismo diz que as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) abriram mercados de trabalho com novas oportunidades de atrações turísticas em favelas.
— O reforço de militares na Rio+20 é normal, pois grandes eventos requerem uma participação maior da governança. A segurança na cidade melhorou muito e tem permitido as visitas às favelas. É preciso investir nesses novos nichos de mercado, capacitando a mão de obra local para que ela apresente as próprias comunidades.
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